20 AGOSTO
Ao longo dos anos frequentemente tenho ouvido irmãos, manifestando
descontentamento, dizer que nossa Ordem tem estado à margem não só dos grandes
acontecimentos nacionais, como também dos assuntos que dizem respeito à Nação
Brasileira como um todo. Isto pode ser verídico. Nossas leis internas não nos
permitem discutir, no âmbito da Ordem, assuntos políticos partidários porém,
faz-se necessário que saibamos distinguir o que é um assunto
político-partidário e o que não o é. É imprescindível avaliar as distinções por
ventura existentes, e como tal, tratando-se de questões suprapartidárias, não
só podem como devem ser discutidas no âmbito de nossas Lojas ou Grande Oriente,
conforme necessário. Afinal, defender o direito de nosso povo, além de ser o
nosso próprio direito, é um vínculo do qual não podemos nos afastar. E a
história da Maçonaria Brasileira prova o que digo.
Não tenho dúvida que nossa Ordem está atenta, mas, o que ela
pode fazer. Afinal Maçonaria é uma entidade abstrata. Para que ela exista e
produza algo em benefício da nação e de seu povo, há a necessidade precípua de
que seus membros não a tenham como mais uma simples sociedade. Ela é muito mais
que isto. Seus preceitos hão que ser entendidos e praticados por todos os
seguidores de sua doutrina, como bem fizeram nossos predecessores.
A Sagrada Instituição faz-se presente em nosso país há alguns
séculos. Sua atuação, além do evento da Conjuração Mineira, quando nossos
irmãos se insurgiram contra a cobrança escorchante de tributos impostos pela
Coroa Portuguesa, culminando com a condenação de Joaquim José da Silva Xavier,
nosso Irmão Tiradentes. No entanto, passou a ser mais atuante no primeiro
quartel do século dezenove.
A chegada da Família Real em 1808 ao Brasil foi como a
realização de um sonho, que amealhado por tantos quanto esperança tinham de ver
o desenvolvimento da terra pátria deu-lhes um alento. As boas coisas, no
entanto, costumam ter vida efêmera. Cessaram as causas que determinaram a vinda
da Corte para nosso País. Os súditos de além-mar reclamam o retorno da Corte à
capital Lusa, o que ocorre. D. João deixa seu filho Pedro, como Príncipe Regente.
As Cortes portuguesas não ficaram satisfeitas e pelos Decretos nºs. 124 e 125
determinaram que o Príncipe também deveria retornar a Lisboa. Pedro claudicava.
Indeciso não sabia ao certo a quem atender se aos anseios nacionalistas dos
brasileiros, ou a determinação das Cortes e de seu pai. Era chegado o momento
de agir. Não mais havia tempo para aguardar que novos acontecimentos arrefecessem
os ânimos da Corte. Liderados por Joaquim Gonçalves Ledo e pelo Cônego Januário
da Cunha Barbosa, seguidos por insignes figuras exponenciais da pátria como
Domingos Alves Branco, José Joaquim da Rocha, José Clemente Pereira entre
outros, a Maçonaria deliberou e agindo rapidamente buscou convencer, D. Pedro,
a assumir de vez suas responsabilidades para com a pátria que o acolhera, e a 9
de janeiro de 1822, data que marcou o início de nossa emancipação política,
conseguiu o compromisso de D. Pedro de não aceitar as determinações da Corte,
optando em permanecer no Brasil.
Os esforços despendidos pela Ordem Maçônica através de seus
proeminentes adeptos alcançaram seus objetivos. A luta, porém, não estava
finda. Não seria de esperar que as Cortes portuguesas aceitassem passivamente
aquele ato de insubordinação, o que de fato ocorreu. Os sentimentos libertários
de emancipação fervilhavam não só no Rio de Janeiro, então sede do futuro
Império, como também nos principais centros administrativos brasileiros.
Há uma data de emblemática importância no período que
antecedeu à proclamação de nossa Independência. Trata-se de um documento cuja
responsabilidade de sua redação coube a Joaquim Gonçalves Ledo e ao Cônego
Januário da Cunha Barbosa, mas que viria a ser assinado por D. Pedro, dirigido
ao povo brasileiro contendo o seguinte texto:
“O Manifesto de 1º de
Agosto”.
“Está
acabado o tempo de enganar os homens”.
“Está
dado o grande passo para nossa independência. Já sois um povo soberano”.
“Não se ouça entre
vós, outro grito que não seja – união! Do Amazonas ao Prata não retumbe outro
eco que não seja – Independência! Formem todas as nossas províncias o feixe
misterioso que nenhuma força pode quebrar. Desapareçam de uma vez antigas
preocupações, substituindo o amor ao bem geral ao de qualquer província ou
cidade”.[1]
A nossa História registra que a 20 de agosto de 1822, data
que ora comemoramos, em reunião da Loja Commercio e Artes, e em sessão
presidida por Joaquim Gonçalves Ledo que possuía a função de Primeiro Grande Vigilante,
equivalente ao cargo de Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil,
foi decidida a Proclamação da Independência do Brasil. Dezoito dias após aquela
sessão, às margens do riacho Ipiranga era proclamada a Independência do Brasil
pelo homem que, embora filho de Portugal, soube valorizar o torrão que lhe
acolheu, e à sua família, num momento de dificuldades.
Muitos outros foram os relevantes feitos prestados por nossa
Ordem ao longo da História pátria. Muitos haverão de ser os feitos que, se
tivermos discernimento para bem absorver os sagrados ensinamentos que tanto
nossa Ordem quanto a vida nos transmitem; se nos despirmos do orgulho que
sobrepuja a razão, e das vaidades que toldam as realizações que nada mais
representam se não o simples cumprimento do dever, certamente os realizaremos.
[1] - A Maçonaria e a Grandeza do Brasil – A. T.
Albuquerque
José Maria de Souza
Martins, M. I. - A.R.L.S. "DUQUE DE CAXIAS" IX Nº 2198, GOEPA/GOB, Oriente de Belém/PA.