Digite abaixo o seu email para receber mensagens com as nossas postagens:

segunda-feira, 18 de março de 2013

Entrevista com um Maçom






Apresentador - Boa noite, senhoras e senhores. Estamos de volta com “Conheça o Desconhecido”, o programa líder da TV brasileira que nos leva a navegar por “mares nunca d’antes navegados”. Neste bloco, vamos conversar com o Sr. Paul Manson, membro da ordem dos Maçom e que nos vai comentar sobre esta secreta e misteriosa instituição. Recebamó-lo com todo nosso carinho...

Público – Aplausos.

Apresentador – Paul Manson, comerciante aposentado, professor de geologia na Unilock e Maçom há mais de vinte anos, seja muito bem-vindo. É um prazer recebê-lo em nossos estúdios e já começo com a maior curiosidade de todas: Afinal, o que é a Maçonaria?

Paul -Boa noite, Gabriel. Agradeço muito o convite, é verdadeiramente uma honra estar aqui nesta noite falando um pouco da nossa Ordem. Bem, vamos à pergunta: Começamos com talvez a mais difícil de todas uma vez que não existe uma resposta simples ou simplista para “o que é a Maçonaria”. Por definição, ela é uma Ordem filosófica e iniciática, de natureza reservada, totalmente baseada em alegorias e símbolos, com o propósito único de aperfeiçoar o ser humano para que este desempenhe um papel relevante na construção de uma sociedade mais justa e perfeita.

Apresentador – Nossa, é uma bonita explanação, mas que nos diz muito pouco. Na verdade, queremos saber, entender, o que fazem fechado em seus templos secretos... O que passa na verdade aí?

Paul – Você já passou em frente a algum templo maçônico?

Apresentador – Sim, várias vezes. 

Paul (sorrindo) – Então, não são secretos, concorda? Gostaria de aproveitar este momento para desmistificar isso. Não temos segredos, temos sim uma tradição em trabalhar de forma discreta, com rituais próprios que servem para congregar os membros e criar uma atmosfera salutar que permitam ao homem se desenvolver filosoficamente e, por que não dizer, espiritualmente. Afinal...

Apresentador (interrompendo) – Ok, vamos nos focar em duas coisas aí. A primeira, “que  permita ao homem". Então, a Maçonaria é machista, certo? Só homem é considerado digno de pertencer a ela. E segunda, o desenvolvimento espiritual. É a Maçonaria uma religião, ou não?

Paul – Bem, Gabriel, vamos tentar entender o processo... Estamos falando de uma ordem filosófica tradicional, e reforço a palavra “tradição”. Suas origens remontam à idade média, nas antigas guildas ou associações de pedreiros que construíam as grandes catedrais por toda a Europa. Como em praticamente todas as profissões na época, a participação da mulher era praticamente nula. Mesmo quando no Século XVII e XVIII ela deixou de ser uma agremiação de construtores e passou a aceitar pessoas com idéias iluministas, muito em voga então – num processo que chamamos de “passar de operativa à especulativa”, ainda assim a participação feminina na sociedade era muito pequena. Ao consolidar as bases da instituição, uma das tradições mantidas foi de que seus membros deveriam ser “homens livres e de bons costumes”, quer dizer, varões que não poderiam ser servos. Mas não é verdade que “só o homem participa” da maçonaria. A mulher, enquanto mãe, esposa ou filha de maçom, tem importante papel dentro da ordem, e como ser humano e como integrante atuante da sociedade, tem o reconhecimento devido, independente de gênero. Apenas nos reservamos à tradição do “homem livre e de bons costumes” para não iniciar a mulher na Ordem. Mas existem Lojas Maçônicas mistas ou só de mulheres, funcionando nas mesmas bases que as que chamamos “regulares”. 

Apresentador – Espera um pouco... Isto está se tornando interessante. Existe Maçonaria “regular” e maçonaria “irregular”? Como é isso?

Paul – Permita esclarecer alguns conceitos básicos para entender essa questão: Todo maçom é indicado por outro maçom, um “Irmão”, para pertencer a uma Loja Maçônica. Este processo segue um fluxo, que também é tradicional. Um conjunto de Lojas federadas forma uma Potência ou Obediência maçônica, que são ditas “regulares” por que obtém o reconhecimento nacional e internacional de outras potencias. A Maçonaria não tem um governo único, uma “ONU” ou um vaticano que garanta que a pureza de sua tradição e sua cultura sejam mantidas. Assim que esta espécie de “rede” de potencias se reconhecendo garantem que os princípios básicos da ordem sejam mantidos. No Brasil, por exemplo, temos três grandes obediências ou potencias reconhecida entre si e internacionalmente. Acontece que existem outras Lojas maçônicas ou potencias maçônicas que não obtém este reconhecimento, por diversos motivos, assim que convivemos com a chamada Maçonaria irregular, ou não reconhecida. 

Apresentador – Bem, voltemos ao tema de religião. Afinal de contas, qual a religião maçônica?

Paul – Somos uma sociedade que se autoproclama de “livres pensadores”. Acreditamos sinceramente que todo o progresso humano passa pelo estudo, pelo aperfeiçoamento, pela busca da verdade. Sendo assim, não temos nem somos uma “religião”. Como poderíamos impor algum dogma ou crença? Exigimos apenas que o candidato professe alguma fé, que creia sinceramente que há um Ser criador e que há uma contínua evolução espiritual. O nome que ele der a Este ser – Deus, Buda, Jeová, Allah, Krishna, etc – e a maneira com que escolha conectar-se a Ele (a religião) é de seu livre arbítrio. Apenas, deve crer nesse Ente Superior e respeitar a crença dos demais. Por isso que em Loja, proibimos qualquer discussão política ou religiosa, como uma forma de garantir a liberdade de escolha do outro. Jamais vamos impor um deus ou uma religião. Seria ilógico, uma contradição.

Apresentador – Mas todos sabemos que o Maçom tem alguns segredos, uma ligação com “bodes”, com esqueletos, etc. Não seria isso uma forma de “seita satânica”?

Paul – Gabriel, somos uma sociedade filosófica. Como expliquei antes, procuramos crescer individualmente buscando a “verdade” interior. E temos como um dos princípios básicos o respeito à autoridade, as leis e principalmente, o respeito religioso. No início de sua estruturação como sociedade filosófica, ou quando se transformou de operativa em especulativa, ela agregou correntes de pensamentos que na época assustaram bastante a hegemonia da Igreja sobre a fé das pessoas. Recordamos que nos Séculos XVII a XIX o catolicismo era dominante na Europa e julgava-se o “guardião da verdade” e da fé das pessoas. Recém despertávamos de um imenso período de trevas caracterizado pela inquisição. Qual a melhor maneira de neutralizar a nova sociedade e suas idéias iluministas? Qual a melhor maneira de garantir o status quo reinante? A “demonização” da Ordem, ou aproveitar-se da boa fé das pessoas para atribuir ao desconhecido poderes sobrenaturais, satânicos, demoníacos. A superstição, alguns autores mal intencionados e algumas ações da Igreja contribuíram para criar esse mito. E nós mesmos contribuímos muito para manter e inclusive, aumentá-lo, ao aceitar passivamente as acusações e recolhermo-nos ao silencio dos templos. A verdade é que tais acusações ou não nos importou no seu devido momento, ou por uma estranha “vaidade” coletiva em nos reconhecer “diferentes”, aceitamos que o mito se consolidara. 

Apresentador – Mas um dos maiores escritores da Maçonaria, não recordo seu nome, reconheceu que Lúcifer era o deus maior, não?

Paul – Você deve estar falando de Albert Pike, que foi um destacado Maçom norte-americano que escreveu uma obra fantástica, denominada Moral e Dogmas. “fantástica” por que está eivada de erros e acertos. Como eu disse anteriormente, a maçonaria não tem um “governo” central, um “vaticano” responsável pela manutenção centralizada de seus princípios, não temos um “Grão Mestre Geral”, um Papa. Assim que toda sua estrutura está baseada nos usos e costumes dos tempos, o que chamamos de Landmarks, e em constituições das diversas potencias e obediências que buscam uma coerência entre si. Ao não possuir este poder central, este órgão regulador único, ela está sujeita a inúmeras interpretações e contribuições das mais diversas. Pike foi um importante autor maçom no seu tempo, e ajudou muito a estabelecer de uma maneira geral esta necessária coerência, mas cometeu erros. O próprio titulo de seu livro, “Moral e Dogmas”, não está alinhado com a proposta da Maçonaria, que é a de não impor dogmas ou verdades. A questão de Lúcifer deve ser entendida com a origem da palavra Lúcifer, ou Vênus, e estrela da manha. Tanto dentro do esoterismo egípcio, mais tarde aperfeiçoado pelos gregos, como pelas primeiras escolas filosóficas do período moderno, a estrela da manha, Vênus ou Lúcifer, era estudado como “o portador da luz”. E foi nesse sentido que a palavra Lúcifer foi associada à maçonaria por Pike. Absolutamente nada a ver com o “Anjo Caído”, o diabo criado pela tradição judaico-cristã. E finalizando, Gabriel, como expliquei anteriormente, em maçonaria não temos um deus. Temos a crença num Criador.

Apresentador – Sei que há coisas que você não pode nos falar. Mas existe sim um Deus, que o Maçom reverencia como GADU.

Paul – Gabriel, não existe absolutamente nada em Maçonaria que eu não possa te falar. Como disse antes, não temos segredos. Somos discretos, nunca “secretos”. Teu cartão de crédito tem um número e um código de segurança impressos nele. Comparativamente, o número do cartão seriam nossas atividades, nossas sessões, nossos rituais, e o número de segurança seriam nossos sinais de reconhecimento entre Maçons. Discretos. Mas estão aí, impressos, ao alcance. Dito isso, te esclareço que GADU são as iniciais de Grande Arquiteto do Universo. Uma sociedade com origem de construtores, suportada por alegorias e símbolos que lembram esta origem, naturalmente escolheria a figura de um “construtor” ou “arquiteto” para simbolizar o criador. É um nome genérico para agregar todas as crenças nesse Ser criador. Quando eu, budista, nomino a Buda como Grande Arquiteto, estou fazendo o mesmo que você, cristão, quando nomina a Jeová como “O” Grande Arquiteto. Tanto meu Deus, o Buda, quanto o teu, Jeová, são o Grande Arquiteto do Universo. O Criador, o que fez.

Apresentador – OK, e quanto aos esqueletos, ao reverenciar o bode, aos sacrifícios?

Paul – Engraçado, sempre aparece o tal de “bode” quando falamos de Maçons... O bode é um erro histórico, por uma incompreensível vaidade, se manteve. Existem diversas teorias sobre a aparição do “bode” na Maçonaria, nada comprovado, nada concreto. Alguns atribuem à figura bíblica do “bode expiatório” usado pelo povo judeu para ajudar a suportar a carga do mundo. Outros atribuem aos templários, que supostamente foram acusados de adorar a figura de um deus babilônico que tinha feições de bode (Baphomet). E muitas outras histórias. Infelizmente, alguns Maçons por vaidade ou por pura provocação mantiveram a lenda, a ponto de imprimir decalques e folhetos com a figura de um bode representando a Maçonaria. Alguns inclusive brincam com a expressão “bode” ao referir-se a outro maçom. Não existe, oficialmente, nenhuma referencia ao animal “bode” dentro de uma reunião – ou sessão –maçônica. Quanto a esqueletos, caveiras, sacrifícios de sangue, etc, são lendas absurdas, semeadas pelos detratadores da ordem no sentido de reforçar a imagem de “demonização”. Para ser bem sincero, há sim uma representação da transitoriedade da vida, um crânio humano em gesso ou outro material, que lembra ao Maçom que a vida é passageira, que a morte é uma realidade e que deve pautar seus pensamentos para a construção do que realmente importa, seu valor espiritual. Mas ele não é usado em nenhum ritual ou coisa parecida, ele fica ali, paradinho em um determinado local do templo, justamente para lembrar constantemente isso. Que na vida tudo é transitório, tudo é passageiro.

Apresentador – Bem, e quanto ao dever de todo Maçom ajudar a outro Maçom em dificuldade? De favorecer em tudo e contra todos? Como é essa história de que todo Maçom fica rico de uma hora para outra?

Paul (rindo muito) – Meu amigo Gabriel, vou te dizer uma coisa: Se todo Maçom é rico, alguém por aí ficou com minha parte (Risos gerais). Brincadeiras à parte, ninguém ganha dinheiro com Maçonaria, posso te garantir. Ao contrario, gastamos muito com livros, com benemerência, com custos de construção de templos, etc. Existe sim uma explicação natural e plausível para a suposta coincidência entre “entrar para a Maçonaria” e “melhorar de vida”. Via de regra, quando um Maçom indica para sua Loja uma pessoa da sociedade, ele busca características nessa pessoa que combinam com suas próprias características e valores: Uma pessoa estável, bom pai, bom marido, bom profissional, respeitada na sociedade. Geralmente, o indicado está numa fase em sua vida que sua carreira profissional está amadurecendo, encontra-se numa faixa estaria que está chegando ao ápice da escalada produtiva. Então, é comum associar o desenvolvimento natural de sua condição financeira com o fato de ter “entrado na Maçonaria”. Dois fatos absolutamente sem relação de causa-efeito. 

Apresentador - Mas todo Maçom se ajuda, não negue...

Paul – Todo o Maçom tem o dever moral de prestar socorro a outro ser humano, seja ou não Maçom, desde que isso não cause nenhum conflito moral ou não prejudique sua própria sobrevivência. É um principio humanitário, humanista, e não Maçom. Claro que por afinidade, por professar valores parecidos, por conhecimento, é natural que um Maçom busque ajuda entre seus Irmãos, mas isso não é garantia de que será ajudado. Historicamente, a Maçonaria Operativa guardava parte dos ganhos de seus membros para garantir à viúva e filhos de seus associados uma ajuda no caso de falecimento do arrimo da família. Não tínhamos na época previdência...

Apresentador – Paul, e os tais “favores”? A “ajudinha”, o “jeitinho brasileiro” entre Maçons?

Paul – Gabriel, tem um ditado, clichê em nossa ordem, de que “a Maçonaria é perfeita, seus membros não”. Existe isso em Maçonaria, de “ajudinhas escusas”? Sim, existe. Assim como entre o poder judiciário, entre políticos, entre policiais, entre médicos, entre alfaiates... Como seres humanos, somos falíveis e sujeitos a desvios de comportamento. Não somos “santos”, tampouco pretendemos ser. Mas buscamos, como instituição, nos melhorar a cada dia. Nestes casos, é um dos preceitos da ordem que devemos nos pautar com rigidez pela ética, pela moral, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pelo respeito à autoridade e às leis do país. Existe sim, infelizmente, o bom e o mau Maçom. O grande segredo é saber, cada vez mais, separar um do outro.

Apresentador – Bem, está claro que a Maçonaria se preocupa em aperfeiçoar seus membros. Qual o ganho real da sociedade com isso?

Paul – Gabriel, pensamos em termos filosóficos: Melhorando o homem, melhoramos a sociedade. Para nos manter no campo da alegoria simbólica, melhorando a pedra, aparando suas arestas, corrigindo suas perfeições, estamos melhorando a construção, a obra. A isso nos dedicamos. Não somos clubes de serviço, como os excelentes Rotary ou Lions, não somos uma ONG, como os maravilhosos Médicos sem Fronteiras, tampouco somos uma entidade religiosa. Temos sim, algumas ações filantrópicas individuais ou como Lojas, utilizadas como uma ferramenta de nossa própria construção pessoal. A filantropia não é o fim da Maçonaria, apenas um de seus meios.

Apresentador – Paul, para terminar. Fale-nos do “Plano Maçônico para Dominar o Mundo”, ou a Nova Ordem Mundial.

Paul (olhando sério, fixo para a câmera) – Em verdade, confesso aqui para vocês: Sim, queremos dominar o mundo. Para isso, já nos associamos ao Pink e ao Cérebro para criar uma Nova Ordem Mundial onde tenhamos controle absoluto de tudo e de todos. (Risos). Gabriel, não temos uma sede mundial, um governo mundial, somos milhares de Lojas congregando milhões de pessoas sem nenhum contato estruturado, nos baseamos em antigas tradições e reconhecimentos para manter certa unidade e coerência. Que condições teríamos de “mudar”, ou até mesmo somente “influenciar” o mundo? Certa feita um Irmão, respondendo a esta mesma pergunta, brincou: “Se não temos a capacidade nem de ser unânimes quanto ao que vamos jantar depois da sessão, como teríamos unanimidade de mudar o mundo?????" Temos uma elevadíssima pretensão, um sonho, uma utopia: Fazer deste, um mundo melhor. Como? Aperfeiçoando a base da construção, a pedra simples e bruta que, uma vez preparada, arestas aparadas, polida e rigorosamente anguladas, servirá para, somando-se com milhares de outras pequenas pedras iguais, edificar a magnífica obra de uma sociedade melhor, mais justa, mais humana, mais próxima ao Criador. Este é o nosso plano verdadeiro para dominar o mundo. Muito obrigado.


Autor: Irm.  Hugo Schirmer



Fonte:www.omalhete.blogspot.com